12 de jul. de 2011


 Estava andando em direção à biblioteca, até que parei para pensar nos motivos que tinham me levado a fazer aquilo. Não encontrei nenhum bom o suficiente, mas também não encontrei nenhum que me fizesse desistir daquela loucura. Talvez eu fosse mesmo masoquista, talvez eu gostasse mesmo de sofrer. Não importa. Depois que encontrei aquele bilhete no meu armário, me pedindo para ir a biblioteca no intervalo entre as minhas aulas de química e biologia, eu não pensei em não ir. Eu sabia que iria, seja qual fosse o preço que eu tivesse que pagar depois - e eu sabia que seria alto. 
 Parei diante das portas da biblioteca, respirei fundo duas vezes, tentei acalmar os batimentos acelerados do meu coração - sem sucesso - e entrei. Ele estava sentado em uma mesa vazia, no canto mais distante da sala, perto das fileiras com os volumes mais antigos que a biblioteca tinha. Não hesitei e fui na direção dele, tinha que acabar logo com aquilo. Parei diante da mesa, de frente me pra ele, e fiquei de pé, então disse:
 - É melhor ser rápido, minha próxima aula começa em menos de 10 minutos. 
 Ele me olhou direto nos olhos, sério, durante alguns instantes, e eu não desviei o olhar. O rosto dele estava completamente sem expressão, eu esperava que o meu estivesse tão sem expressão quanto o dele. Até que, finalmente, ele disse:
 - Certo, eu acho que mereço toda essa sua frieza...
 - Você acha? - eu perguntei, sarcasticamente, interrompendo-o. Ele me ignorou.
 - E entendo que esteja com raiva. Não vou dizer que estou certo, porque não estou. Também não espero que você me perdoe tão facilmente, mas eu tinha que te dizer isso. Eu preciso que você saiba a verdade, independente de se você acredita nela ou não. Eu só preciso tirar esse peso dos ombros. E por mais que eu queria que tudo volte a ser como era antes, sei que isso não vai acontecer - ele respirou fundo e me olhou, esperando que eu dissesse alguma coisa. 
 - Bom, ainda bem que você sabe que, independentemente do que você disser, não vai mudar o fato de que você já fez a burrada e não vai mudar como eu me sinto ou o quanto eu sofri e estou sofrendo. Então, vá em frente.
 Ele respirou fundo de novo e, por um segundo, achei que fosse chorar. Mas ele se recompôs e disse:
 - Ok, vou direto ao ponto: não fui eu que a procurei, não fui eu que foi atrás dela. Foi ela que começou a dar em cima de mim, ela armou tudo desde o começo. Ela queria separar a gente, e conseguiu. Não estou dizendo que também não sou culpado, isso não anula o que eu fiz. Porque fui eu que cedi aos... - ele parou um segundo e pensou numa palavra melhor do que a que tinha em mente - àsinvestidas dela. Eu sei, ela não me obrigou a nada, eu que fui estúpido e imbecil, e por esse meu erro, eu perdi você. E não há nada do que eu me arrependa, ou vá, me arrepender mais. 
 Agora ele decididamente estava quase à beira das lágrimas, sua voz foi ficando cada vez mais esganiçada à medida que ele ia falando. Precisei de um minuto para me controlar e não acabar desmoronando em lágrimas também. Respirei fundo pela milésima vez naquele dia e disse, numa voz que transparecia mais segurança do que a que eu realmente sentia: 
 - Espero que você não ache que isso muda alguma coisa. Não importa quem começou, o que me importa é o que você fez. E você me traiu. Com a minha melhor amiga. E assim, além de me tirar você, você ainda acabou com a minha amizade com ela. Ou ela acabou, se o que você diz é verdade. Mas só o que eu sei, é que eu não me importo mais. Isso não muda nada. 
 - Sim, eu sei que isso não muda nada, mas, amor, tenta entender... eu amo você. Só você. Sempre amei. Por favor, me desculpe - agora ele já tinha perdido o controle, algo incomum nele, e estava chorando.
 - Era só isso que você tinha pra me dizer? - perguntei.
 - Sim, amor, por favor... - ele se levantou.
 - Então você já disse tudo. E eu já ouvi. Acabou. Tchau, já estou atrasada. - me virei e quase abri a porta quando me lembrei e disse mais uma coisa:
 - E não me chame mais de amor. 
 Abri as portas da biblioteca e fui para a aula de biologia. E as lágrimas que não irromperam durante toda a conversa, de repente começaram a jorrar.

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